sexta-feira, 16 de abril de 2010

FAÇA VIVER



FAÇA VIVER
Tudo acontece como deve acontecer. Será essa a lei do Universo? Dizem que a vida é como uma viagem de trem, independente de ser longa ou curta, durante essa viagem embarcam e desembarcam pessoas, pessoas que nunca te falaram nada, mas que de certa forma influenciaram a sua vida. Pessoas que com um simples olhar te convencem a mudar de atitude, nem que seja um desvio de olhar. As vezes muito mais que isso...
Dona Ana que o diga... Don’ana, assim mais conhecida, vivia bem seus 54 anos de idade, morava em sua cidade preferida, a que considerava um paraíso, Florianópolis é a Pátria que adotou.
Mãe de três lindas filhas, essas que por sua vez preferiram a vida pacata de dona de casa, deixando na flor da juventude a vida de menina pra virarem mães, deixando Don’ana avó com menos de 40 anos. Ela acreditava que isso aconteceu devido a ausência do marido que a deixou viúva com 35 anos e nem chegou a conhecer os netos. A pensão do marido que trabalhava na marinha garantiu uma boa viuvez, Don’ana se sentiu sozinha na casa que morava a beira mar, era uma casa grande, com muitos quartos...casa que foi anfitriã de tantas festas entre a marinha nacional e os amigos de escola de suas meninas. Decidiu trocar tudo por um apartamento menor no centro da cidade, assim poderia ficar mais perto de suas filhas e seus netos.
A vida lhe era parcialmente vivida, até que lhe veio uma triste notícia, num exame rotineiro os médicos diagnosticaram como tendo leucemia crônica, incurável, disseram a ela, mas existia um tratamento em que poderia prolongar sua vida pelo menos por mais um pouco. A vida lhe pregou uma grande peça, com essa idade o que poderia acontecer além da visita da morte?
Ela decidiu fazer o tratamento a base de quimioterapia devido a insistência das filhas, mas isso a debilitou mais, seu cabelo caiu e o resto de sua vaidade desmoronou. Quando uma de suas netas comentou a sua mãe: por que a vovó ta careca? Ela sentiu vergonha de estar perto das crianças que tanto amava. Parou de visitar as filhas e quase não atendia a porta, se considerou o pior dos monstros. Pelo telefone passou a ser monosilábica com as filhas respondendo sim, não e as vezes um “uhum” de diferentes tons. Com o tempo seu humor piorou, ranzinza como poucos conheceram. Eremita em seu próprio apartamento. Nem a televisão ela conseguia assistir, deixou o tratamento de lado e ficou esperando a morte chegar, era a única certeza que tinha.
Mas algo estava por acontecer. Faltavam mais 3 meses de vida, segundo os médicos que lhe diagnosticaram a 6 meses atrás. Don’ana já era solitária e seus vizinhos já nem sabiam quem moravam no apartamento que ela habitava. Foi em um dia como qualquer outro que a energia elétrica do apartamento acabou, a empresa responsável por tal devia estar fazendo alguma reforma perto de sua casa. Isso deixou Don’ana muito zangada, porque ela fazia seu café na cafeteira elétrica e sem a energia não podia fazer. Procurou um bule, coador, cadê o coador? Não tinha nem o filtro de papel e nem um coador, ela teria que sair de casa pra comprar num mercado. Ela colocou um lenço na cabeça e vestiu uma blusa fina mas elegante, trocou as pantufas por um par de sapatos que há muito não usava. Quando abriu a porta do apartamento viu algumas portas fechadas e o silêncio predominando no local, isso a deixou a vontade para descer alguns lances de escada até a saída que dava a rua.
Ela atravessou a rua e atravessou a praça XV de Novembro para chegar ao mercado na Avenida Rio Branco. Chegando lá apanhou rapidamente o que queria, pagou e se foi, quando estava atravessando novamente a praça, o vento soprou forte e seu lenço estava por voar, mas num golpe rápido ela o segurou na cabeça mesmo, viu um banco com um rapaz sentado numa extremidade e, sendo o único que dava pra sentar, pra arrumar o lenço. Ocupou a outra extremidade do banco.
Preocupada em arrumar o lenço sem chamar a atenção do rapaz ao lado, ela acabava olhando-o com certa angústia. O rapaz parecia desinteressado nela, completamente absorto no que lia, um livro de capa dura, de cor bordô, muito familiar a Don’ana. A curiosidade coçou a garganta dela, não resistiu e perguntou:
_Você está lendo Augusto dos Anjos?
O rapaz entendeu que a senhora lhe dirigiu a palavra e repondeu:
_Han?... Sim, sim, estou lendo Augusto dos Anjos sim, a senhora já leu?
Don’ana não queria conversar, mas seria uma falta de educação tremenda se saísse dali naquele instante, afinal foi ela que perguntou ao rapaz.
_Li muito em minha juventude, ele tem uma agressividade ao encarar a vida.
O rapaz acentuou:
_Acho que não gostava de viver, encarava tudo com uma negatividade horrível e usava palavras, as vezes, escatológicas pra expressar o desânimo de viver.
Isso tocou Don’ana, Augusto dos Anjos deveria ter passado o q ela passou, ela até pensou que deveria escrever no mesmo estilo.
_É verdade menino, a vida nos obriga a ter certas atitudes nas quais a gente desmoraliza o que nos envolve.
_Como é seu nome?
Relutante ela respondeu:
_Ana, mas meus amigos me chamavam de Don’ana.
_Te chamavam? Meus pêsames por seus amigos...
_Não se foram, só deixei de vê-los
_Isso deve de ser ruim, porque os amigos e familiares ajudam muito a todo instante, seja espiritualmente, fisicamente e até materialmente. Necessitamos de todos sempre a nossa volta.
Ela pensou que aquele rapaz, muito ingênuo, nunca iria imaginar o que ela viveu e em como ela se esconde do mundo esperando pela morte.
_As vezes temos motivos para nos refugiarmos do mundo!
_Refugiar? Fugir de viver não é solução pra nada. Onde está Deus na vida de alguém assim? E o amor que tudo conserta?
Ele a olhou nos olhos. Percebeu que ela sofria com algo, mas não quis ser indelicado perguntando, e continuou a dizer:
_Sabia que as pessoas mais felizes são as que vivem mais? O segredo está no amor, em dar amor e saber receber amor, isso se torna uma troca de energia positiva. Uma cura pra alma.
_Não seja ridículo moçinho, acha que alguém vai se curar duma doença terminal com amor?
_Tem razão, o amor tem que estar acompanhado com a fé! Você tem que acreditar, e, de repente tudo começa a mudar pra melhor.
Don’ana tentava acreditar no rapaz, de fala tão macia e adocicada, ele parecia ter certeza do que estava falando. O que ele escondia?
_Você não tem como me provar isso.
Ele se levantou:
_Claro que posso. Quer ver? Por favor, Don’ana, se levante.
Ela se surpreendeu com aquilo, e quando ele se levantou Don’ana chegou a se assustar, mas queria saber do que aquele menino falava. Ela se levantou e o jovem rapaz lhe disse:
_Deixe-me te abraçar, e dar-lhe todo meu amor!
Don’ana sorriu, aquilo era irônico, mas ele estava lá de braços abertos em meio a praça principal, não entendia o porquê mas queria ir até o fim dessa história. Ela olhou dos lados e viu que o mundo não a olhava, se levantou em direção ao jovem rapaz, este por sua vez se aproximou mais dela e lhe abraçou duma maneira muito fraternal e amável e colocou a cabeça sobre os ombros de Don’ana. Don’ana não sabia o que sentir, ou o que fazer mas deixou-se ser abraçada, e em poucos instantes sentiu uma fraqueza nas pernas, um frio que lhe subia as costas e seu rosto encostou-se no peito do rapaz, era um abraço gostoso, como sua mãe sempre lhe deu na infância, ou quando seu marido lhe abraçava antes de partir numa viagem pela marinha, igual ao de suas filhas quando crianças e quando assustadas corriam até ela, abraçando-a como pedido de proteção. Don’ana não pensou em mais nada e abraçou aquele rapaz, que nunca tinha visto antes, como se fosse um pai, um marido e um filho e se comoveu, as lágrimas rolarem-lhe o rosto e umedeciam a camisa daquele rapaz que resgatou o sentido de amor que ela acreditou que não existia mais, e sentiu vontade de viver mais uns cem anos para ver os netos de seus netos.
Por alguns minutos eles ficaram abraçados e ela extraia toda a pureza, bondade e amor que aquele rapaz tinha, ela sorriu de felicidade e se sentia como se pisasse em nuvens. Olhou pra ele e disse:
_Obrigada, nem imagina como significou muito pra mim.
_Imagino sim, o amor contagia e faz-nos sentir melhor sempre. Nos faz viver!
_Como posso retribuir isso a você?
_Don’ana, faça o mesmo. Ame e viva! Assim, mesmo inconsciente estará espalhado o que há de melhor a todos ao seu redor.
O rapaz olhou ao seu relógio, viu que estava atrasado pro seu compromisso mas nada falou. E ressaltou:
_O que é bom deve ser divido, compartilhado, distribuído e ensinado. Com muito agradecimento ao Nosso Senhor Deus. Já disseram que a fé move montanhas mas que sem amor nada é.
_Você é tão novo e tão sábio. E nem se apresentou a mim, nem me disse seu nome.
Ele se apressou e rapidamente tirou da bolsa um pedaço de papel e uma caneta:
_Sealiah!
_É o nome de um anjo, que lindo! Veio bem a calhar.
_Obrigado Don’ana. És muito amável - continuou - olha só, vou deixar anotado no papel meu nome e meu telefone, quando precisar é só chamar.
Anotou seu nome e telefone, e Don’ana fez o mesmo e disse que esperava que ele ligasse logo. Deram mais um longo abraço, e Sealiah explicou-lhe de que ia fazer uma prova pra um concurso e já lhe passava da hora.
_Então vá garoto! E boa sorte.
Ele já se encaminhando e se distanciando falou em alto som:
_Não se esqueça, ame e acredite! Faça viver!
Ela o olhou andando rápido entre os prédios até perde-lo de vista, e pensou em como foi bom um simples abraço, ela tinha que correr pra casa e ligar pra suas filhas só para dizer que as amava. Ela colocou o papel dado por Sealiah dentro duma agenda no dia em que o conheceu: nove de dezembro de dois mil e nove. E foi correndo pra casa.
Chegando ao prédio que morava decidiu ir pelo elevador, onde entraram mais pessoas que lhe deram boa tarde e ela os retribui igualmente. Abriu o apartamento e viu que este estava escuro, cheirando a coisa velha, abriu as janelas e deixou o sol da primavera entrar por todos os cantos da casa, dando-lhe outra cor e a presença de vida. Ligou para uma das filhas que na hora concordou em visitar a mãe.
Passaram-se então os dias, seus netos iam e vinham pela casa, Don’ana nem sabia mais o lugar de tudo, as crianças aprontavam muito, mas ela se sentia feliz com a presença de todos. Esqueceu que faltava pouco para morrer e se lembrava a todo instante de viver com alegria e muito amor. Suas vizinhas, novas amigas que agora freqüentavam sua casa, combinavam longas jornadas de carteado nas quais se divertiam.
Veio o natal e a casa de Don’ana estava cheia, suas filhas, seus genros e seus oito netos eram presença garantida, o prédio inteiro parecia estar dentro do apartamento de Don’ana. Um dia com significado tão importante onde o amor estava tão intenso que fez ela lembrar do rapaz que ela viu na praça, ele nunca a procurou, não ligou, ela perdeu o papel que Sealiah lhe dera, e em oração pediu que ele ficasse bem onde estivesse.
Sua vida havia se transformado, estava tão feliz que se esqueceu que estava doente, na primeira quinzena do mês de fevereiro de dois mil e dez suas filhas lhe acompanharam durante uma bateria de exames, depois foi a uma entrevista com o médico responsável por seu caso.
O médico entrou na sala em que Don’ana esperava com um sorriso, ele estava aparentando nervosismo e se sentou:
_Olha Dona Ana não sei como posso lhe dizer isso...
Don’ana lhe interrompeu:
_Doutor, pode dizer o que for, já estou preparada. Quanto tempo ainda me resta?
Ela abraçou as três filhas enquanto esperava o médico lhe responder:
_Bem, é sobre exatamente isso! Nós demos o máximo de nove meses de vida, geralmente, os pacientes vivem em torno de seis meses, isso ocorre devido ao fato de desanimarem e amargurarem suas vidas, eles literalmente desistem de viver. Mas a senhora durou os nove meses e nesse tempo parece que rejuvenesceu, seu cabelo voltou a crescer, suas articulações estão perfeitas, seus rins intactos e seu sangue como de um bebê purinho. Em outras palavras, a doença não existe mais na senhora!
As filhas abraçaram a mãe que se comovia em lágrimas, mas ainda surpresa pergunta:
_Como isso?
_Já ouvimos falar de casos em que a doença se extinguiu, o comum em todos os casos, como o da senhora, é que todos não desistiram de viver, se apegaram mais a família, amigos e a crença espiritual.
Don’ana se lembrou de Sealiah:
_Acreditar e amar. O amor e a fé juntos curam qualquer coisa.
O médico meio confuso ainda:
_Pode até ser, vemos que esse é o grande comum em todos que se recuperaram dessa doença. A senhora ganhou uma nova oportunidade, não disperdice-a. mas aconselho a senhora a voltar de tempo em tempo e fazer pelo menos os exames de rotina.
Don’ana saiu de lá com uma felicidade sem igual. E cada dia se lembrava de Sealiah, e daquele abraço mágico que contagiou o seu viver. Ela agradecia em suas orações todos os dias por esse rapaz com nome de anjo ter aparecido em sua vida.
E a vida continuou sobrecarregada de alegria e amor, era o que faltava na vida de Don’ana, e finalmente chegou uma data festiva tão esperada pela família, o aniversário dela. Dia primeiro de junho ela estava completando cinqüenta e cinco anos, com um rosto rejuvenescido e ânimo de uma criança. Durante a festa viu uma de suas netas num quarto vazio, estava deitada na cama, com vários lápis de cor nas mãos e rabiscava em algo que lhe parecia familiar, chegou mais perto e reconheceu sua agenda do ano passado, na hora lembrou de que aquela agenda sumiu e nela estava o papel que Sealiah lhe deu com o nome e telefone dele.
_Sua danadinha, eu procurei isso por tanto tempo, deixa só ver se a vovó acha um papelzinho aqui e já lhe devolvo ta?
A menina só deu um sorriso e deixou a avó pegar a agenda.
Don’ana sabia que tinha colocado o papel no dia em que se conheceram, mal se lembrou o dia mas procurou na parte de dezembro, tinha certeza que fora no começo daquele mês.
_Incrível, está aqui como se estivesse recém colocado. Nove de dezembro de dois mil e nove...
Ela parecia sentir novamente aquele abraço que lhe fez sentir a vida, lhe fez sentir viva. Como ela gostaria de lhe agradecer novamente. Ela o queria por perto, apesar de sempre se sentir perto dele a partir daquele dia.
Don’ana entregou a agenda à netinha que se divertia colorindo todas as páginas e novamente se distraiu ali. Ela por sua vez colocou o papel no bolso, pensou em ligar naquela hora, mas já era tarde da noite.
_Amanhã de manhã vou ligar.
Don’ana voltou a sua festa e se divertiu, dançou, cantou, nem o lenço usava mais, seu cabelo já cobria bem afeiçoadamente a cabeça. Tranquilamente, após o fim da noite de seu aniversário, arrumou a pouca bagunça da casa ajudada por suas filhas que após isso foram embora. Depois de tudo ela foi ter sua tranqüila noite de sono.
Na manhã seguinte Don’ana levantou, feliz, como eram sempre seus dias a partir de então, fez uma breve oração e partiu pra fazer seu café, não havia esquecido por instante algum de ligar para Sealiah. Fez sair a voz rouca de quem tinha acordado a pouco e foi ao telefone com o papel que Sealiah lhe deu em mãos.
Discou o número e ouvia o tom de chamada:
_Residência dos Stalaski.
_Olá, bom dia, procuro por um jovem chamado Sealiah, ele se encontra?
_Sealiah? – uma voz feminina parecia tremer – um instante, por favor, vou chamar o senhor Stalaski...
Don’ana acreditou se tratar de uma empregada da casa já que havia tanta formalidade na forma de atender e de tratar o dono da casa. Aguardou por uns instantes.
_Pronto. Levi Stalaski, com quem falo?
_Olá, meu nome é Ana, gostaria de falar com Sealiah, ele me passou esse número de telefone.
_A senhora conversou com ele a quanto tempo atrás?
_Eu o conheci a uns seis meses atrás, há algo de errado?
_Me desculpe Ana, mas acho que de alguma forma você não foi informada.
_Do que senhor Stalaski? – isso lhe causou uma calafrio.
_Sealiah faleceu há uns seis meses atrás.
Don’ana, sentiu um pavor dominar-lhe e ficou estática por alguns segundos.
_Alô... Alô... Ana, ainda está ai, está tudo bem?
Ela recobra os sentidos depois do susto. Coloca novamente o fone perto do rosto e pergunta:
_Como aconteceu isso? Ainda é difícil de acreditar...
_Desculpe fazer a senhora saber dessa forma, tentamos avisar todos os amigos dele de maneira pessoal. Ele foi atingido por um carro ao atravessar uma avenida no centro da cidade, segundo testemunhas ele estava correndo distraído e não viu o carro em alta velocidade.
O senhor Levi Stalaski ouviu a senhora do outro lado da linha chorar, mas continuou mesmo assim.
_Ele estava indo fazer um concurso que tanto queria. Infelizmente...
Don’ana o interrompeu:
_Concurso? Que dia foi isso meu senhor?
Era uma data que Levi nunca esqueceria, pois foi a data que seu único filho deixou de viver.
_Foi dia nove de dezembro de dois mil e nove, no fim da manhã.
Don’ana se atemorizou – foi o dia e hora que a gente se conheceu, por isso ele nunca ligou – ela sentiu um aperto imenso no coração e se desmanchou em lágrimas – ele estava com pressa mas continuou comigo até eu me sentir melhor, será que fui eu a culpada? Senhor Deus dá-me forças pra suportar essa dor!
Ela retomou as forças e perguntou ao pai de Sealiah:
_O senhor pode me informar onde ele está enterrado e se eu posso visitar sua sepultura?
Levi já com lágrimas nos olhos de falar do filho continuou:
_Claro que sim, ele está enterrado no cemitério do Itacorubi na rua D, quadra 3, sepultura 2. Há uma lápide com seu nome. Com certeza, amável do jeito que era, gostaria de todos os amigos por perto. Aquele menino tinha amor nos olhos. A senhora não imagina quanta saudade ele deixou...
O pai cheio de amor e saudade pelo filho caiu em prantos e desligou o telefone. Don’ana estava sentindo algo que há muito tempo não sentia, por uns minutos pareceu confusa. Lembrou daquele rapaz que lia Augusto dos Anjos sem sequer gostar dele, que por insistência dele ela renasceu, voltou a viver o que já tinha desistido de ter pra si. Ele devolveu a ela algo muito precioso e ela teria de agradecer de qualquer forma, retomou as forças, trocou de roupas e foi em direção ao cemitério.
Lá chegando encontrou um dos responsáveis pelo cuidado com o cemitério, perguntou onde ficava a rua D, quadra 3 e sepultura 2. O zelador se apressou a acompanhá-la até o local, depois de uma forçada subida pelo morro cruzaram várias sepulturas que só o zelador poderia conhecer, ele parou de frente uma sepultura decorada com mármore e flores plantadas ao pé do jazigo, havia uma lápide dourada.
_È aqui senhora!
Ele deu uns passos pra trás e ficou a espera da senhora que guiou.
Don’Ana agradeceu, colocou-se a frente do homem, reparou nos crisântemos, lírios e orquídeas plantadas e muito bem cuidadas, passou a mão pelo mármore levemente alaranjado até se dar de frente a lápide. Ela leu o que estava escrito e desabou em lágrimas. O zelador foi até ela apoiar-lhe e a pôs sentada sobre o mármore.
_Acalme-se senhora! Sei que de onde ele esta estará olhando a senhora com bons olhos.
Don’ana o olhou e disse:
_Com certeza esse rapaz me devolveu a vida, me ensinou em alguns instantes que amar e acreditar poderia ser tudo, como queria poder abraça-lo agora e lhe dar de volta sua vida e conseguir seguir o lema de sua vida.
O homem olhando-a curioso perguntou:
_Qual era o lema do rapaz?
Don’ana em choro sem poder responder só o abraçou e apontou para a lápide, foi daí então que o homem prestou atenção ao que estava escrito:
Sealiah Stalaski
De: 27 de Janeiro de 1987 Até: 09 de Dezembro de 2009
“FAÇA VIVER”
Celso Kadora 16.04.2010